Reaproveitamento de alimentos

Com o desenvolvimento da sociedade, a cultura alimentar, apesar de bastante diversificada, ainda é pouco conhecida do ponto de vista nutricional e das nossas matrizes culturais.
Além de se atentar aos aspectos nutricionais, que tal dar atenção ao papel dos alimentos como marcadores sociais? Isto nos ajuda a valorizar o consumo consciente e promover ações de combate ao desperdício.

Veja aqui o vídeo da professora de culinária Janne Glébia, utilizado nas oficinas virtuais desse projeto, que apresenta os fundamentos do aproveitamento integral de alimentos.

Receitas para aproveitamento integral dos alimentos

DOCE DE CASCA DE MARACUJÁ AZEDO

Ingredientes:

• cascas de 6 maracujás
• 2 xícaras (chá) de açúcar
• 3 xícaras (chá) de água
• 1/2 xícara (chá) de suco de maracujá
• cravo ou canela em casca a gosto

Preparo:

Lavar o maracujá ainda inteiro, cortar ao meio e retirar a polpa. Reservar. Descascar o maracujá, aproveitando apenas a parte branca da fruta. Cortar em tiras finas ou em cubos. Deixar de molho na água de um dia para o outro. Fazer uma calda com açúcar, água e suco de maracujá, feito da polpa. Acrescentar o cravo ou a canela em casca, adicionar as cascas escorridas e deixar cozinhar até que fiquem macias. Servir gelado.

Rendimento: 10 porções.

É mato, mas se come: as PANCs

São mais de 10 mil espécies de plantas com potencial para se tornarem alimento que fazem parte da biodiversidade brasileira – uma das mais exuberantes do mundo. No entanto, as plantas efetivamente utilizadas na alimentação dos 206 milhões de habitantes do país não passam de 300. E as oferecidas nos grandes centros urbanos não passam de dezenas, como qualquer consumidor consegue comprovar. No caminho até o supermercado pode ser que ele tenha passado por algum canteiro com taioba, ora-pronóbis ou se admirado com um belo cacho de dente-de-leão (foto ao lado), mas dificilmente veria nessas plantas algo além de mato.
As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) estão por todos os lados, na cidade e no campo, mas se tornaram mais conhecidas a partir de 2008, quando o biólogo Valdely Kinupp cunhou o termo. Em menos de uma década, o chamado “mato de comer” vem ganhando adeptos entre chefs, gourmets, apreciadores de novidades gastronômicas ou simples curiosos.
A expressão “não convencional” deve ser entendida de forma relativa, pois entre diversas comunidades plantas exóticas a outros paladares fazem parte do dia a dia nesses locais há muitas gerações. Mas, em linhas gerais, as PANCs são espécies que não têm valor comercial devido a pouca procura e que pesquisas revelaram alto valor nutricional. Entram nesse grupo espécies como capuchinha (rica em vitamina A e C), bertalha (ferro, cálcio e fósforo), a folha da batata-doce (de efeito antioxidante e rica em nutrientes) e a araruta (fonte de vitamina B e redutora da pressão arterial), entre outras até então (des)tratadas como mato.

É melhor não sobrar

A expressão permeia todas as classes sociais, ao fim de uma refeição onde boa parte do que foi servido irá para o lixo: “É melhor sobrar do que faltar!”, justificam os cozinheiros que erraram o cálculo (invariavelmente para mais, sob o risco de passarem vexame diante dos convidados). O problema é que sobra muita comida na mesa brasileira, enquanto também falta para muitos.

Uma pesquisa realizada em 2019 pela Embrapa, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, estimou em 130 quilos anuais o quanto uma família média brasileira joga fora de comida processada, ou de sobras não aproveitadas. Esse desperdício dá uma média de 41,6 quilos por pessoa. Entre os produtos mais descartados estão os mais consumidos: arroz (22%), carne bovina (20%), feijão (16%) e frango (15%).

Para efeito de comparação, esse desperdício significa semanalmente o descarte de aproximadamente 2,4 quilos por domicílio. Pesquisa semelhante feita na Europa revelou que na Alemanha, por exemplo, cada família joga fora 439 gramas nesse mesmo período. Ou seja, o Brasil, sendo um país onde 22% da população enfrenta algum nível de insegurança alimentar, tem um longo caminho a aprender em relação a como usar mais, e melhor, aquilo que planta e come.

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